quarta-feira, 27 de outubro de 2010

POEMA PARA O LOUCO

Um louco existe dentro de todos nós. Dançarino livre, andarilho, herói que sai pelo mundo em busca de experiências, amor, de vitórias, de liberdade e alegrias. Ele caminha no mundo e encontra alegrias e tristeza, perdas e ganhos.
E, é através deste salto que ele poderá chegar ao auto-conhecimento.
O louco pertence ao mundo de magos, músicos, ciganos, artistas, mágicos... Podemos encontrá-lo como um mágico (Merlin), Rei Momo, Artista – como um Mago, Bobo da Corte, Mendigo, seresteiro, Poeta, Humorista, Maestro, Mestre de Bateria, Cartunista. O louco interior dança, canta e comanda a orquestra da vida dentro do coração daqueles que não se apegam ao poder, à ambição e ao controle. Ele é o mestre das estrelas, dança no universo a música das esferas. Ele segue indiferente a fama, a glória, ao poder. Ele é livre. Ele vive o amor no aqui e no agora. É intenso apaixonado. Quem conhece o amor em seus braços nunca esquece, conhece o prazer em suas células.
Ele não tem medo de morrer de amor, e e se entrega perdidamente, sem limites. Ama como se, cada momento fosse o último. Quem conhece o amor, envolve o outro com o verdadeiro amor.
O louco é verdadeiro e inspira confiança. Quem não tem medo de perder, de morrer, vive intensamente. Ele sabe que a intensidade de um momento, vale por uma eternidade. Ele não tem medo da perda e não se apega a segurança.
Ele é abençoado com as graças da vida. Ele se chama liberdade e voa como os pássaros. A esperança está acesa em seu coração. Ele é a nossa criança interior, antes de se transformar em um adulto “mumificado” pelo sistema.
Ele caminha com o seu animal sagrado, ele é um xamã, ele conhece e respeita os mistérios da natureza... Ele fala a linguagem das fadas, das estrelas, dos bruxos e dos iniciados.
Ele procura compreender, não julga. “Sem a energia do Louco todos seríamos meras cartas de jogar. Ele pode virar o jogo da vida a qualquer momento, Ele sempre tem uma carta guardada para a virada. O louco, dança no fogo da paixão sem medo da entrega e nos empurra para a vida, onde a mente reflexiva poder ser super cautelosa, o medo não domina sua mente”.
A sua fé, move o seu entusiasmo. Ele não carrega dentro de si os fantasmas controladores dos passado. Ele não carrega no seu coração a mágoa, o ressentimento, a culpa. Os “demônios” da sua mente, dançam a música da alegria e estão embriagados com a alegria de viver. Ele é livre do adversário interior, sua mente é clara como um céu azul. Ele vive no aqui e no agora. Quando dança ele está em paz, e em harmonia. Ele confia na vida e vive o seu destino, naturalmente. O louco não é condenado pela culpa e pelo castigo. Habitam-lhe os espíritos dos ventos da profecia, criatividade, intuição e da poesia. Ele dança e canta para a vida. Ele é o Criador da Magia. Ele sabe usar a música da vida para atrair a felicidade. A vida gosta de quem gosta dela.
A gratidão é mãe de todas as virtudes e nos aproxima da luz. As graças inspiram o poeta, o músico que vive dentro dele. Ele reverencia as Deusas com o seu coração.
O Louco é um mestre que bebe e canta com os boêmios, os brancos, mulatos, políticos, banqueiros, os pedintes, os religiosos, os negros, os índios, os ciganos, as prostitutas, os homossexuais – senta ao meu lado e me faz companhia – com os excluídos ele aprende a viver. Ele é um mestre que reconhece a luz no coração daquele que o mundo condena. Ele re-conhece as motivações humanas, suas misérias e mentiras, sua podridão e reconhece o cheiro do inferno na alma que se arrasta na lama.
Ele re-conhece a humilhação, a necessidade nos olhos e no corpo do outro. Ele pode se olhar no espelho sem se envergonhar dos seus limites, das suas fraquezas. Ele perdoa e compreende. No silêncio amigo ele me aceita, não me questiona, sabe ouvir...
Ele respira a verdade, não tem vergonha da sua própria escuridão. É um mestre que não julga, não condena, não discrimina. Ele é a humanidade que vive dentro de todos nós que revela sua fragilidade e sua força ao mundo sem vergonha. Não tenta destruir o outro excluído socialmente, sabe que não é nem o melhor, nem o pior, só mais um no meio da multidão. Não quer destruir dentro dele, “aquele” – dentro dele – que ele tem medo de um dia se tornar.
Vive a boêmia sem se envergonhar do vinho que toma. Ele é mais um no meio do povo. Ele é o povo... A multidão. Sua voz é a voz da multidão. Sua emoção canta no coração de todos. Ele é um mestre de bateria. Ele leva a “escola” para a Avenida, sem errar o compasso. Seu coração é uma porta aberta, ouve sem julgar e deixa ficar todos que chegam. Ele é forte e Senhor da harmonia. Ele “venceu” sua própria sombra. Ele conhece a si mesmo, reconhece o seu perfume e o seu veneno. É um observador do seu ódio, da sua amargura e desespero; não é dominado pela fúria cega e sem direção.
Integrou no ponto do Tao seus demônios e seus deuses. E ri, da vida como um palhaço que também chora. Ele é o herói, o vilão, o vencedor e o vencido. Um pouco de todos nós. Nós somos um dia o herói ou o bandido, na vida de alguém.
Ele fala a língua de todos os povos, reza em todas as cartilhas e cultua todos os deuses. Ele sabe que Deus é Um. Ele é a coragem e a garra do vencedor. Inocente, flexível, generoso, imprevisível, amigo, ele é o “vir-a-ser.”
O dharma, a mudança, o movimento, a ação da vida. Ele dança livre, é filho da liberdade. Dança para Shiva e ama a vida e o prazer... Ele é a inspiração e a intuição que nasce na fonte criativa do vazio. Ele é a fé que move montanhas. O início. O zero de todos os números. O ponto e o círculo.
O louco é generoso e convida todos para dançarem a dança da vida. É preciso coragem para viver, para se entregar, largar tudo e seguir. É um Mago que conhece todas as possibilidades que há no vazio... Ele é um arquétipo (imagem) que nunca morre. Eterno adolescente, eterna poesia da juventude. “Sua Roupa colorida é símbolo da união de muitas espécies, dos opostos. É a ponte entre o mundo caótico do inconsciente e o mundo ordenado da consciência”.
O louco se liga ao símbolo do falo, tanto no sentido da devassidão, como da fertilidade. Seu chapéu com campainha, toca como um sino que desperta para o Divino, quem está a sua volta... Ele representa o “puer eternus” o adolescente de vigor imortal – com vários séculos de idade. Sua vara – sua flauta mágica, seu som faz os inimigos dançarem e assim, acalma a cólera e o ódio.
Em nossa jornada para a individuação, o louco demonstra com freqüência sua curiosidade impulsiva, para sonhos impossíveis. Sua busca do prazer nos lembra nossa infância. O louco como Eros, busca a beleza e o prazer. Encanta a todos com a sua paixão pela vida e com o seu brilho. Ele dança a dança da vida com sua alma. Por isto, o universo conspira ao seu favor.
Quero dançar e cantar com a alma possuída pelo artista divino, que saboreia a vida com o prazer de viver e não permite que algemas do controle, medo, punição e da dominação nos roube a nosso maior tesouro – a sabedoria da arte de viver.
O louco sem limites, sem controle de si mesmo poderá vir a ser um marginal social, que se destrói e traz a destruição à sua volta. Aquele que ama e respeita o próximo, assume sua responsabilidade... O Louco é um artista, e aquele que não ama é um insano. Podemos destacar o lado sombrio do louco que não encontrou sua harmonia com o mundo: exagero, preguiça, solidão, excesso de planos delirantes, extravagância, impetuosidade, imprudência, indecisão, ingenuidade, imaturidade, inconseqüência, indisciplina, vício, devassidão, atração pela morte e pelo crime.
O “insano” é aquele que não consegue avaliar suas atitudes, egoísta,orgulhoso, prepotente, irado, déspota, tirano, alienado da realidade social e não preocupa com os outros. Ele está no escuro, sem alma, vive separado na solidão do egoísmo. Espero que todos possam encontrar o seu ”Louco”, no caminho da esperança. Envio do meu coração para o coração de todos a paixão do louco que queima no meu coração. Estamos juntos na estrada da vida em busca da luz.

Poema para o Louco

Dharma Dhannyael
Fonte: http://www.clubedotarot.com.br/